AMOR, TEMPO, MORTE: treino básico para a vida... o resto é "peanuts"

terça-feira, janeiro 24, 2017

@photobyMarleneBarreto

Sou da opinião que o Ministério da Educação deveria inserir como obrigatória na escola, a disciplina : “Treino básico para a vida". E não, não estou a falar em esoterismo e ou espiritualidade … mas naquilo que o próprio nome da disciplina incita. Dar ao ser humano, um treino básico, as premissas mais importantes para Viver e não sobreviver. Sejamos sinceros, Viver tem tanto de mágico quanto de difícil, e eu sou pessoa otimista.

Na minha opinião focar-se-ia em determinados conceitos que tantas vezes subvalorizamos. E há muito que me apetece falar sobre a matéria que poderia ser lecionada nesta disciplina e talvez não o fizesse agora, se não se tivesse ligado o meu motor ao ver o filme “Beleza Colateral” com o Will Smith. O que me faz escrever este texto debruça-se sobre aquele que é o maior objetivo da arte: pôr-nos a refletir, mexer com o interior, bagunçar e chacoalhar as emoções. Este conceito de Beleza Colateral na Morte deixou-me a pensar, a pensar demais. E sim, acreditem que mexeu comigo acima da linha. Foi impossível assistir ao filme de ânimo leve e deitou abaixo toda a boa disposição que tinha angariado durante toda a semana. Nessa noite, a minha voz calou-se por completo e o meu cérebro começou a batalha pela dissecação dos conceitos: Amor, Tempo e Morte e inevitavelmente procurar a sua Beleza Colateral. Que beleza será esta?


Como atribuir valor a um conceito tão imensurável como é o teu, AMOR? 

Tantas vezes incompreendido, criticado e alvo dos maiores ataques terroristas e mesmo assim colocas-te ao dispor sem retorquir uma palavra. Admiro a tua coragem em tentares tanto, em resistires aos maiores resistentes, em promoveres tanto crescimento emocional e em troca levares com tantas negas. Como teimas tantas vezes promover a harmonia a troco de 0? Não te cansas de ser tão … ignorado? Confesso que no teu caso eu já teria feito as malas e partido para outra…
Quantas vezes já andaram às turras contigo por deferenderem que só TU tens deveres? Quantas vezes já foste tema de conversa entre amigos e ou casais? (Não te rias, foi só uma pergunta retórica). Lembraste da quantidade de vezes que foste a desculpa para fundamentalismos e tiranias? Quantas vezes escritores já te usaram procurando ser best sellers ou que já deste o nome a poemas sofridos do poeta que não consegue ser visível aos olhos da sua amada? 
Todos te usam e nem sequer direitos pedem. .
Ainda bem que a Perseverança é uma das tuas maiores características. Se te serve de consolo, eu não viveria sem ti. Deste-me as melhores sensações do mundo e se tivesse de morrer amanhã, morreria feliz. Até poderia tentar dizer que trazes contigo as emoções mais verdadeiras e reais que um ser humano pode sentir, dizer-te que perante a tua presença o meu coração passa a ter uma amplitude infinita e que só tu me fazes sentir Humana. Contigo trazes o cuidado imensurável, os afetos descarados e sem pudores, trazes o beijo verdadeiro, a necessidade de perdoar, a arte de OUTRAR.
Sou tão leiga para falar de ti que sinto que estou apenas em estágio . Já me fizeste sofrer, não vou negar mas acredito que todo esse sofrimento teve uma “Beleza Colateral”. Já fiquei “de mal” com alguém antes de ir dormir e é das piores sensações do mundo. Prometi a mesma não voltar a repetir porque o tempo passa e nós desconhecemos o conteúdo do contrato que assinámos no entre-vidas.

TEMPO, para que serves se não passas de uma concretização do homem para controlar a abstração de que és feito? 

“Tenho todo o tempo de mundo” canta Rui Veloso. Afinal o que és tu, se não uma tentativa humana de exercer poder sobre algo? Quem disse que o dia tem de ter 24 horas, ou que temos de viver entre as 12h e as 00h . Afinal de que és feito que não de uma matéria invisível que apenas se nota através das rugas que vão carregando a nossa pele? Gostava de te conhecer tanto quanto ao Amor, mas tu és mais esquivo, foges-me por entre os dedos e praticamente não conseguimos ter uma conversa de adultos, olhos nos olhos. Às vezes imagino-te como aquelas crianças traquinas que teimam em sair da vista dos adultos sem aviso prévio. Uma pessoa distrai-se e lá foste tu. Tal como o teu colega anterior, acho que são poucos ou nenhuns os que te compreendem. Talvez Einstein tivesse esboçado uma teoria um pouco mais ampla sobre ti, mas  a partir daí pouco mais se sabe. Fala-se que és uma espécie de quarta dimensão e os realistas defendem que és separado da mente humana. Depois há quem fale de ti usando os conceitos de passado, presente e futuro e existe ainda quem se dirija a ti como irreal ou seja que não existes e que o ser humano é que tem a ilusão do tempo. Fico confusa, não te entendo. Sinto-te no meu corpo, no meu rosto, na minha alma…mas nem sequer te posso acusar porque não sei se és real … Para os humanos traduzes-te em “Envelhecimento": desgaste natural das células ao longo do tempo. Mas se tu não existes como denomino eu a passagem que existe entre o meu nascimento e a minha morte? Uma espécie de vácuo? Sinceramente, gostava que jogasses um pouco mais limpo e te fizesses entender … mas o mais certo é que gostes de ser aquele personagem que só aparece no momento final do filme, mostrando que foi ele que proporcionou todo o enredo. Aceito mas não compreendo, mas talvez a humanidade não passe de um filme da quarta dimensão ….

E que Beleza Colateral existe em ti, minha Morte?

Dirijo-me a ti com algum carinho só para quebrar o gelo entre nós. Porque tu, sim és gélida, tão gélida quanto o mármore. Tens mais protestantes que admiradores e para saber disso não preciso de recorrer ao google. Tu e o tempo devem ser amigos, parece-me. Vejo-te assim como uma espécie de desfecho do mesmo e corrige-me se tiver errada. 
 A nossa conversa é de igual para igual e sem grande pompa e circunstância. Somos adultas e não me assustas, propriamente.  Aceito que existas, só me é difícil o teu jeito e ar calado…desculpa que te diga, mas não te sinto propriamente fiel a nada nem a ninguém, a não ser a ti própria. Sempre que me vens à mente, não sei o que pensar… serás tu um mal necessário, ou um bem inevitável? Pois depende da perspetiva, se formos apenas uma peça do jogo, então não vejo a Beleza Colateral em sermos derrubados sem dó nem piedade, muitas vezes numa só jogada. Vou dizer-te na cara e não é que não saibas, mas tu não tens amigos porque não és dócil, és fiteira, chantagista, irónica e em muitos casos fazes questão de ser impulsiva sem dar tempo para as despedidas. Se tenho de aceitar? Tenho, que remédio mas não sejas ruim, caramba. Ok, também concordo que a solução não seria ter uma morte com data marcada mas ainda assim acho que as regras deste jogo deveriam ser revistas.
E já agora que Beleza Colateral é esta que tens? O que pode ter de belo, assistir a um coração deixar de bater? Como pode ser belo o sofrimento?
Acho que por hoje não quero mais conversas contigo, fiquemos por aqui . Talvez num próximo dia consiga estar à altura de responder ao teu silêncio ensurdecedor.

Amor, Tempo e Morte … a trilogia base da disciplina “Treino básico para a vida”, o resto é “peanuts". 

Marlene Barreto

PS: Convido todos a ir ver o filme e não, não ganho nada em troca, apenas as vossas reflexões se as quiserem aqui partilhar.  





Abraça-me mais forte ainda

quinta-feira, janeiro 19, 2017

@photobyMarleneBarreto
Enquanto dormes na cama depois de já termos feito amor, apetece-me simplesmente contemplar-te. Percebo-te exausto depois de um dia de trabalho que certamente foi exigente. Mas agora dormes, dormes como um pequenino indefeso que apenas quis chegar ao seu ninho seguro. E estás nesse lugar, sem que ninguém te possa fazer mal. Passo-te a mão pelo rosto só para te sentir e tu, percebendo a minha presença, sorris, puxas-me para perto de ti e abraças-me forte. Fazes com que não exista qualquer distância entre nós. O teu abraço é tão forte que prende qualquer movimento que eu tente. Não consigo fugir. Mas também não quero. Não tenho para onde ir que não seja ficar aqui ao teu lado. Desejo viver em slow motion este momento para saborear em câmara lenta esta troca constante. Trocamos o calor dos nossos corpos nus, a respiração que suspira pelo mesmo, partilhamos carinhos e sonhos de uma vida cheia de sentido.
Estou de costas para ti, sabes que é dessa forma que gosto de ser abraçada enquanto dormimos. Mas pelos vistos já não tens sono. Estás desperto. Bem desperto, sinto-o. Pedes-me para me virar e olhar-te nos olhos. Olho-te com todo o meu amor. Neste momento, não os vejo, mas avaliando os teus, os meus olhos sorriem e dizem o quanto estou feliz por estar aqui.

 “Abraça-me mais forte ainda”, peço.

 E tu não hesitas. Inalo o teu cheiro como sendo a minha droga, a droga que me deturpa os sentidos do onde, do quando e do porquê.
Estás inquieto, eu estou inquieta … estamos prestes a fazer amor outra vez. As nossas almas transcendem e à medida que sinto o teu coração pulsar e o teu corpo suado de prazer, fico ainda mais excitada. Não consigo controlar e as lágrimas caem-me no rosto, são de felicidade.

”Não te preocupes, está tudo bem comigo, continua”, digo.

Sinto-me em unidade contigo e isso é esmagador.

“Abraça-me mais forte ainda se conseguires”, volto a pedir.

Tu tentas mas já não há intensidade física suficiente para a energia que os nossos corpos emanam. É místico, é mágico… Os teus olhos espelham-se nos meus. Toda a intensidade do momento exauriu-nos e por agora, só nos resta relaxar um pouco.
Levantas-te ainda nu e eu observo-te. Procuras atrás da moldura, que tem a nossa fotografia da Turquia, e pegas na garrafa de Whisky. Enquanto o líquido cai no copo, adoro a forma como intercalas o olhar entre mim e o que estás a fazer. O teu sorriso está rasgado. Estás feliz, eu sei.
Deitas-te ao meu lado e, juntos, nús, olhamos o teto. Temos um candeeiro enorme na frente ainda que o teto tivesse algum interesse.

“Somos parte um do outro, sabes disso?!”, oiço-te.

 Senti de imediato um arrepio vindo da lombar até ao pescoço.

“Bem sei”, respondo-te.

 Olhas para mim , sorris mais uma vez e interlaças o teu braço ao meu pescoço. A excitação passou, o orgasmo aconteceu mas o amor dilata-se neste quarto que se torna tão pequeno para nós. 


Ali.

Tic, tac, tic, tac... e amanhã pode já não ser amanhã.

domingo, janeiro 15, 2017

@photobyMarleneBarreto
Levantar, vestir, lavar o rosto, os dentes, acordar a criança, dar-lhe de comer, vesti-la, vestir-te, abrir a porta, fechá-la, entrar na empresa, dar os bons dias, sentar, colocar os phones, trabalhar… o relógio marca horário de almoço… almoças e voltas para trabalhar mais um pouco. O telefone não pára de tocar . As encomendas chegam, novos pedidos precisam de ser feitos. Os dedos teclam freneticamente no teclado do computador enviando e-mails, e muitas vezes as respostas não chegam. Antigamente, com uma conversa tudo se resolvia, hoje em dia sem um e-mail, nada acontece.
Um tempo para o teu cigarro e café, tens? Claro que sim, estás deserta. Então vai lá.
Esboças um sorriso à colega do lado que está na sala de fumadores ao mesmo tempo que tu. Não se conhecem mas já se cruzaram algumas vezes. Trocam meia dúzia de palavras (assim tudo pela superficialidade) e sobes até ao escritório para continuar o que estavas a fazer antes da pausa. E assim se passam horas até bater o ponteiro no horário de ir para casa.

“Que felicidade”, dizes para ti própria em forma de pensamento. 

O teu momento mais feliz do dia é o do arrumar a secretária, desligar o computador e dizer “até amanhã”.
Mas espera... antes de ires para casa, tens ainda o teu filho para ir buscar à escola. Sinto muito dizer-te mas ele teve tão entretido o dia todo, que nem deu pela tua falta. Falas-lhe que antes de chegar a casa, terão de passar no supermercado e ele, simplesmente, concorda e apressa-se a pedir-te um presente. Sempre que te sentes culpada pela tua ausência não hesitas e dizes-lhe que “sim”, mas hoje não era o dia … estavas frustrada: 

“Só se te portares bem”, disseste-lhe.

Deixa-me que te questione: O que significa o teu filho portar-se bem?
 
Será não fazer uma birra de criança? Não espalhar todos os brinquedos pelo quarto como fazem todas as crianças? Não passar horas a fio atrás de ti chamando: "Mamã, Mamã …"
 
Achas que consegues ser mais exata na tua explicação?

Vens cheia de sacos e ele é pequeno demais, não te consegue ajudar. Nisto, o teu marido saíu mais cedo do trabalho e chegou a casa primeiro.

“Poderias ter começado a fazer o jantar”, pensas mas não lhe dizes.

Dás-lhe um beijo morno (e atenção que morno é aquela temperatura tépida  e esquisita que nem se sente nem deixa de se sentir) e vais para a cozinha. Ele entende a tua estranheza mas não te quer encher com perguntas e toma que é o cansaço a apoderar-se de ti.
Falta o jantar e o banho do teu filho. E enquanto deixas a comida ao lume ( assim como quem tem um olho no burro e outro no cigano), colocas o be na banheira e pedes ao teu marido, gentilmente, para que ponha a mesa.

“Sim, claro”, respondeu-te de imediato.

Tu já terminaste a tua tarefa e e ele ainda está a finalizar a dele. Não falas mas quem te conhece bem sabe o que estás a pensar:

“Como é que eu já fiz milhares de coisas e peço-lhe para pôr a mesa e ele ainda nem conseguiu chegar ao fim?!”…

Vê-se pela tua cara que isso te faz confusão, sentes-te injustiçada e o teu sentimento roça a vitimizaçao e em nada encontras o lado positivo. Pior do que tudo, é permaneceres calada.
Enfim, sentam-se para jantar e aproveitam para falar:

“Como correu o teu dia, amor? ”, perguntou ele.

“Oh igual a todos os outros” respondeste enquanto repreendias o menino que estava a fazer a maior badalhoquice com a sopa.

Depois mudam a temática. O vosso filho tem de ir ao pediatra e tu não sabes se vais conseguir despachar-te a tempo . Está a aproximar-se a reunião de apresentação de contas e tu andas a mil lá na empresa.

“Poderias ir com o menino à consulta? É que vai ser difícil libertar-me a horas por causa do fecho de contas”.

“Claro que posso, quando  é ?” respondeu-te prontamente. 

E a tua cabeça começa logo a trabalhar que talvez ele se esqueça de falar da febre que o menino teve na semana passada, das borbulhinhas que lhe têm aparecido no corpo de vez em quando … enfim, descartas logo a hipótese do teu marido o levar ao pediatra. Como sempre, Tu vais conseguir.
Depois, enquanto ele levantava a mesa, punha a loiça na máquina e dava uma varredela rápida ao chão da cozinha, tu foste ao telemóvel para ver se tinha chegado um zap ou um e-mail da empresa. Nada demais, tudo tranquilo. De seguida, vais deitar o be e rezas para que ele tenha uma noite descansada, aliás isso é mais uma questão a referir no pediatra… ele não dorme bem e tu estás a enlouquecer.
São 22h30 e finalmente, sentas-te no sofá. 

“Ufa!!!! Estou estafada”, disseste

“Enrosca-te a mim, amor”; pediu o teu marido. 

Puxas a manta preta que está exemplarmente dobrada na chez longue e tapas-te recostada a ele. Assim que te recostas é literal, cais para o lado. Ainda sentes o seu beijo e ele dizer-te ao ouvido:

 “Sabes que te amo, não sabes?” … 

Mas a voz já está tão ao longe que a força de responder já não existe. A tua energia foi sugada e deixas-te dormir que nem pedra.
E se antes foste tu a levar o teu filho para dormir, agora é o teu marido que te transporta ao colo até à vossa cama, para evitar que acordes a meio da noite deitada no sofá e com dores nas costas. O despertador está automático e amanhã vai tocar à hora de sempre  para mais um dia igual a todos os outros.

No meio disto tudo, faço -te 2 perguntas:
Tu existes?
Achas mesmo que é no piloto automático que está o verbo Viver?

Por acaso, reparaste que o teu marido colocou o CD da Narah Jones ao jantar? Suponho que não, estavas demasiadamente preocupada com a tua vitimização. Percebeste que o teu filho te disse que gostava de ti antes de dormir? Apenas não reparaste porque estavas focada em ser tão perfeita que só lhe querias ler a história do menino Mogli até ao final. Viste que  a tua amiga te mandou um vídeo super inspirador : “ Reinvent your Life - Charles Bukowski”? Claro que não, estavas a sofrer por antecipação com o grupo de trabalho do WhatsApp.   
Foi mais um dia e tu nada viveste, e desta forma se faz mais um risco no calendário da vida.
O relógio nunca pára … tic, tac, ti, tac e amanhã pode já não ser amanhã e podes já não conseguir ouvir o despertador que continua no automático.
Ouve o silêncio mesmo quando ele não tem nada para dizer. São esses os momentos em que a alma sussurra e te mostra o caminho que tens de seguir. 
Aconselho vivamente a viver esta experiência de forma acordada. 



                                                                                                       . 

Beija-me. Meus lábios secaram.

terça-feira, janeiro 10, 2017


 
@photobyMarleneBarreto

Os meu pés acariciavam a areia húmida e fria, faziam uma espécie de movimento circular repetido. Rodavam ora mais lentamente, ora com um ritmo mais acelerado como se personificassem a linha da minha impaciência.
Olho à minha volta e vejo vários casais de mãos dadas que passeiam à beira-mar, o que faz com que os meus lábios risquem um sorriso.

“Sobre o que falarão eles?”, interrogo-me.
Um dos casais gesticula muito como se estivesse a resolver algo entre eles… o ser humano está sempre resolvendo coisas.
Lá ao longe vejo um pai tentando ajudar a filha (parece-me uma menina) a molhar as suas mãos no mar. Está com medo das ondas e como adulto que protege a sua cria, o pai garante que nada de mal lhe acontece. 


"Que lindo está o mar! Tem aquela cor de prata que tanto gostas", penso.

 “ Porque não vens ver?! Vais gostar.”, continuo.

O seu brilho ofusca-me quando tento olhar para a linha do horizonte.
Não sei se vens. És imprevisível, tanto quanto o mar que por vezes ondula calmo, como outras leva tudo à frente. Espero que a tua imprevisibilidade se decida pelo “sim”. É certo que não temos encontro marcado, não existe hora combinada nem tão pouco te falei do local… enfim, sem compromissos. Tu também nunca foste de te comprometer. Vem, apenas se quiseres. (Mas quero muito que venhas).
O meu sossego é invadido pela excitação de um cachorro que se atira a mim, enchendo-me de areia. Está tão alegre que o abraço, como forma de lhe agradecer o carinho. Os cães têm algo em comum com os humanos, acalmam-se com uma demonstração de carinho e afeto com a diferença que eles não têm dificuldade em admiti-lo, já o ser humano sente na fragilidade e na sensibilidade a sua “ zona não confortável”.

“Beija-me. Meus lábios secaram. Estou à tua espera, entendes isso?”

O beijo vai aproximar-nos, jamais nos afastará. O beijo embora nos torne frágeis, injeta-nos segurança.
O que mais gosto não é do beijo mas do ato de beijar. Das sequências algébricas do corpo até ao momento do beijo. Beijar é um ritual que vai do toque das mão que se acariciam à união dos lábios. As mãos sobem ao rosto com ternura e sentem cada linha da face. Os dedos sublinham os olhos fechados, delineiam o nariz, pressionam as maçãs do rosto e tocam de leve nos lábios, primeiro o inferior depois, o superior. Os olhos abrem e sorriem como se se espelhassem. Os lábios ainda nem se tocaram e o corpo já viveu uma viagem. Com um leve sorriso no rosto, o seu encostar é ávido de desejo, de ternura, de saudade. As bocas trabalham na rotação certa, as línguas encontram-se como almas e as mãos acompanham a equação.
E é desta forma que o meu raciocínio sobre a arte de beijar é interrompindo por alguém que me tapa os olhos .

“Não precisas de falar , conheço-te o cheiro, já de outras vidas”, digo sorrindo. 

 Abraças-me forte e sentaste-te ao meu lado a contemplar o mar.

“Tem a cor da prata”, dizes-me

“Sim, tal como gostas”. confirmei.

A tua mão foi chegando-se à minha meio envergonhada. Sinto um arrepio e encosto o meu rosto no teu ombro.

“Como sabias que estava aqui?”, perguntei.

“Recebi a tua mensagem”, disseste.

“Pensei que Ele não ta desse”, disse. 

“Com a intensidade da tua alma, ELE jamais impediria este encontro".

E assim ficámos por horas a contemplar-nos, recriando o momento mais perfeito da eternidade. Beijaste-me com todo o ritual , com todas as formas geométricas exigidas num momento de amor como este. Um amor puro que se transmite por um beijo, um doce beijo, tão doce quanto os nossos sorrisos que se rasgam enquanto olhamos um para o outro, quase sem jeito. Não temos tempo para vergonhas, não sei quando te voltarei a ver.

“Beija-me de novo", peço-te.

Respondes ao meu pedido sem que para isso tenha de te explicar fórmulas. Sabes fazê-lo, sabes do que gosto e de como gosto. O teu abraço quente e ao mesmo tempo forte faz-me dançar como uma bailarina. Sinto-me a voar. o meu corpo está tão leve e o vento sopra-me o rosto (…)  Por esta altura, já só oiço as crianças brincarem, o burburinho das pessoas que continuam passeando junto ao mar, e tu já não estás. És tão imprevisível.

“Quando te vejo oura vez", pergunto-te em versão muda…

Em vão, pois, já não obtenho resposta.

Desligo o Itunes, fecho o livro, limpo os meus pés cheios de areia, arrumo as minhas coisas e vou pra casa. . 




Quem valoriza o pouco, é porque um dia já perdeu o muito

quinta-feira, janeiro 05, 2017

@photobyMarleneBarreto

Não ter opinião sobre algum assunto. Ser indiferente perante situações. Não me preocupar com detalhes e ou pormenores que são decretados como teoricamente relevantes ( para quem? para ti?). Não seguir à risca regras de um relacionamento ... isso faz de mim um ser menos comprometido com o mundo? Penso claramente que não. Paremos de nos impor desmesuradamente. Impor a nossa maneira de pensar, de agir, de viver. Serve apenas para nos desgastarmos sem nenhum resultado aparente. O outro não vai deixar de assimilar como uma teimosia, uma visão, uma pespetiva que é nossa. Ele tem mais do que direito de não concordar, de não se identificar, de contrapor sem que para isso tenha de ficar um ambiente de "cortar à faca". 
Que ousadia acharmos que temos o poder de mudar o Outro. Mudar? Mas Mudar para quê? Para nos agradar? Mudar para que se adaptem a nós? Mudar para nos facilitar a vida num convívio que queremos  muito que resulte?
Costumamos ter a moral de apontar ao Outro a característica de "falta de frontalidade". E como reagimos nós perante a primeira vez que o Outro decide praticar essa mesma frontalidade? Deixa-me responder: a maior parte das vezes, na defensiva, e nem vale a pena negar. É tão humano não gostarmos de ser confrontados, detestarmos que nos apontem o dedo ou que nos acusem de falhar.
Mas vamos tentar olhar a beleza deste conceito. FALHAR. Falhar é das maiores provas que somos humanos e não robots. Falhar é a oportunidade de corrigir e prosseguir em outro sentido. Falhar é destapar a genuinidade de cada um de nós. É o dom de nos conhecermos e evoluir. Falhar é praticar o dom de ser imperfeito.
Aceitar o falhanço, o nosso e o dos outros, não nos desresponsabiliza ( nada disso) dá-nos, sim, a oportunidade de viver a vida com uma maior leveza e aceitá-la tal como ela é, cheia de imperfeições e perfeições simultâneas. Aceitar que o nosso companheiro tem o direito de chegar a casa de mau humor depois e um dia "foda" de trabalho (sim e depois qual é o problema?!), aceitar que num momento de teste não conseguimos atingir as expetativas que tínhamos daquele momento e não fomos tão bons quanto queríamos (e isso faz de nós medíocres?), aceitar que aquele amigo que tanto gostamos não está disponível para nos ouvir naquele momento ( será que o torna um amigo pouco preocupado?), aceitar que os dias de chuva dificultam as nossas rotinas diárias (e isso transforma-os em dias menos válidos?). 
O que seria a vida sem a dificuldade? Quem valoriza o pouco, é porque um dia já perdeu o muito.  
Sinto que me levo demasiado a sério. Quantas vezes não dou por mim a esmifrar o meu pensamento sobre aquilo que fiz de errado, o que poderia ter feito mais, sobre o que não estive à altura de fazer ou responder. Foram milhares as vezes que já sofri por querer agradar alguém e só acabei por me sentir tão mais inferior. Já não consigo contar as vezes que saí de um encontro e pensei:

 "Bolas, não fui eu".

" Caramba sou tão mais interessante que isto". 

"Porque é que não consegui ser apenas eu?"

E do que é que isto me serviu? Para rigorosamente nada. 
Levamos, demasiadas vezes na vida, com o filtro " Medo de Falhar" ...Vamos substituir os nossos presets?

O "ligar o foda-se" de vez em quando faz muito bem à alma e ao coração. E não é preciso ser verbal. 


Marlene Barreto 
(texto escrito no autocarro/ônibus no rio de janeiro, outubro 2016)






Promete que me acordas com o beijo da motivação

segunda-feira, janeiro 02, 2017


@photobyRitaAmaro

Já te via lá ao longe querendo chegar a mim como se viesses a galope. Parecias uma miragem, mas cedo ou tarde, virias e com toda a tua garra, tenho a certeza … ansiava ver-te, sentir-te, não nego. Tenho grandes expetativas quanto ao que vai acontecer entre nós (dizer o contrário seria mentira), no entanto, forço-me para controlar a minha impulsividade, esse é um dos meus maiores defeitos. Obrigo-me a parar e a refletir antes de entrar nesta nossa aventura. Sou geminiana e como geminiana que se preze, esmifro os pensamento ao máximo, até estes não terem praticamente mais sumo. Reflito, alimento os meus desejos, construo expetativas (sei que esse não é o principio ideal mas como já disse atrás, sou gémeos) e bebo da força e da coragem que algures nesta vida ( ou na outra) me foram dadas tomando uma única decisão: a decisão de apenas confiar em TI ( espero que não me desiludas). Não é fácil. TU não me dás garantias de nada e o meu coração está machucado para andar às cegas.  Mas o Universo tem dado os seus sinais e depois de tudo, como é que eu te posso virar as costas? Nem sequer me é dada essa hipótese.
Sento-me no tapete da sala e pego no meu caderninho preto. Dói-me as costas e recosto-me ao sofá. Estou tão inspirada que preciso escrever. (Porra, a caneta não escreve … troco rapidamente por outra. Vai a vermelho mesmo.)  Escrevinho frases loucas, outras politicamente corretas, frases bonitinhas e frases feitas, frases e frases … e nesta impulsividade o ritmo do meu corpo acelera e o meu batimento cardíaco está acima da média … como se estivesse a preparar um dos maiores encontros da minha vida. Há toda uma espera, uma esperança neste que será o primeiro momento que batemos os olhos um no outro. Seria capaz de encher todas as folhas vazias deste caderno mas tento ser coerente , contigo, comigo. Sem nos enganarmos nesta nossa fase de vida juntos.
Bem sei que tens mais idade que eu mas sinto-te um pouco inexperiente, portanto é importante que comecemos a nossa relação de uma forma honesta e sem “merdas”. É bom que saibas o que quero de ti… não sou propriamente uma criança, muito pelo contrário, por vezes parece que já vivi a tua idade …sinto esse peso e achei que seria importante saberes, até para entenderes que nunca estarás a lidar com uma “miúda" qualquer. Neste momento da minha vida não vou lá com uma cantilena e ando “tão à flor da pele” que se for para não cumprir, por favor, nunca me prometas!
Preciso que sejas brando comigo, que entendas que nem sempre estarei com força mas que mesmo assim serás paciente. Nesses dias, que tenhas a humanidade de me passar a mão pela cabeça e de emprestar o teu ombro amigo, apenas para chorar. Mas, promete que no dia seguinte me acordas com o beijo da motivação e da vontade de sair da cama. 
E já que estamos numa de confissões, gostava de dizer-te que, na maior parte das vezes, sou muito emocional e instável… mas acho que entendes isso, não?  
Nos dias em que tiveres de ser mais severo comigo, fá-lo com alguma doçura, não me derrubes, ajuda-me antes a levantar. Quero de ti ações e não demagogias, quero de ti o compromisso sério e não a leviandade …
Precisava ainda de falar-te da minha falta de foco, bem sei que isso é um problema para ti porque és condensado e não tens tempo a perder. Pensa em orientar-me quando a vida resolver trocar-me as voltas. Devolve-me o sorriso quando as lágrimas escorrerem . Mostra-me os prazeres da vida quando a solidão teimar em permanecer. Jamais me retires a vontade de viver, aconteça o que acontecer entre nós.  
Outra coisa importante … eu e o medo andamos de mãos dadas, não sei se sabias disso ou não, mas se não sabias ficas já a saber: a nossa relação será a três. No entanto, não há motivo para preocupação, ele será “apenas” uma espécie de dama de companhia. Quando decidirmos, juntos, tomar decisões, as opiniões dele não vão contar grande coisa. (dei-lhe indicações para isso)… 

 “Mas ele tem mesmo de andar connosco? “, deves estar a perguntar-te.

“Sim, tem.”, respondo-te com honestidade.   

Ele é uma espécie de contrabalanço, uma força presente que serve para me proteger. E mesmo naqueles momentos íntimos em que ele “meter o bedelho” não entres em pânico, pois temos uma combinação própria e ele sabe qual o seu lugar. 

Que o Medo nunca seja um problema entre nós! 

Sou demasiadamente teimosa por isso não te admires se tiveres muita dificuldade em retirar-me alguma ideia da cabeça. Tenho os níveis de “mulher sonhadora” acima da média, o que por vezes é um problema …coloco tanto energia nesses sonhos que da mesma forma que eles ganham força, também esmorecem …. mas conto contigo para me ajudares a ser fiel ao que acredito.  Digo-te de antemão, sou muito sensível. Logo que vires alguém com más intenções se aproximar, avisa-me ou arranja maneira de a afastar. Já as pessoas “reais” e “verdadeiras” eu tenho o dom de as reconhecer. Na verdade, sinto-as ao longe.
Sou uma espécie de pedra preciosa que tem de ser cuidada e vigiada, se não oxida … Valoriza-me, toma conta de mim, preocupa-te com o meu bem-estar e olha pela minha família como se fosse a tua. Se agir errado (vou agir) garante que não me julgas, por favor.  Permite que os meus tesouros venham à tona. Estimula a minha criatividade, não a detones. Inspira-me, não me desanimes.
Ama-me como eu já te amo. Quer-me bem como eu já te quero. Chega-te mais perto porque eu já te sinto …e a tua energia é forte, intensa ….

Para o nosso primeiro encontro, trouxe flores para comemorar.

Agora que já te falei de mim , diz-me:

 “Quais são os planos que tens para mim, querido 2017?”

Marlene Barreto


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