A Persistência realiza o impossível

segunda-feira, março 20, 2017


@photobyGustavoOtero
Hoje acordei lembrando de todos os pormenores de um sonho, o sonho que tinha ocupado parte da minha noite e do meu momento de pura tranquilidade. Sonhara que dançava num espaço amplo, uma sala cheia de espelhos. O meu sorriso era rasgado e o meu corpo estava incontrolável criando passos de dança que jamais poderiam ser reais no meu corpo. Mas ali, no sonho, eles aconteciam e eram verdadeiros. Parecia um pássaro cuja sua natureza é voar, voar em liberdade. Os meus pés erguiam-se em pontas, os meus braços criavam formas abstratas, e o meu corpo era leve , tão leve que girava sem parar e pela primeira vez ignorava qualquer bloqueio ou boicote da minha mente. Era um corpo livre, saudável e estava feliz. A música entrava-me pelos ouvidos e todos os poros absorviam-na como alimento. Uma vibração dentro de mim era a minha bateria carregada, a minha energia original e consegui reconhecê-la, ainda que por breves instantes ... Depois, a música terminou e todos os bailarinos desfizeram o seu porte e seguiram organizadamente para o fundo da sala como se de uma rotina se tratasse. Fiquei olhando para todos eles enquanto prosseguiam. Eu estava cansada, muito cansada. Afinal o meu corpo havia se movimentado como nunca antes tinha feito. Mas estava bem, completa e a bola de energia que se enchia no meu peito era gigante. Estava cheia. 
De seguida, aquele momento, foi interrompido por uma bailarina. 
"Como vai funcionar a partir de agora? Seremos pagos ao espetáculo?", perguntou ela. 
Ouviu-se um silêncio aterrador quebrado pela intervenção de alguém: 
 " A essa pergunta só a Marlene pode responder"
A minha felicidade transformara-se numa espécie de angústia por não saber que resposta dar. Senti a impotência de procurar desesperadamente uma resposta e nada me vinha à cabeça. Mas respondi. Respondi com sinceridade, a única capaz de responder às questões sem resposta. 
 "Não tenho um cêntimo comigo mas tenho toda a vontade do mundo e acredito que a persistência realiza o impossível"
De repente, do cimo das pontas dos meus pés, senti-me a fazer equilibrismo em cima de uma barra. Não lembro ao certo como terminou o sonho, ou se teve algum final concreto. Acho que ficou em aberto mesmo. 
Hoje é Domingo, dia do Pai, 19 de Março. Acordei feliz por ter dançado a noite inteira mas insegura e sem as respostas para o dia seguinte. Entendi, rapidamente o paralelismo com esta fase de vida pela qual estou a passar. Um fase muito visceral, de grande atividade artística/ criativa e de entrega total a esta aventura (concerteza a mais importante até hoje ao nível profissional), chamada "Reflexo". Começou a ser escrita no interior de um avião entre uma viagem Rio de Janeiro-Lisboa. As imagens foram surgindo à mente em forma de flash e perante isso, o mínimo que poderia fazer por aquela história era criar uma linha de raciocínio para que ela pudesse ser contada. 
E claramente, que a primeira parte do meu sonho referia-se a esta imensidão que está dentro de mim relativamente à vontade de fazer acontecer. No entanto, o fecho do sonho não é mais do que a minha insegurança, o meu ego que (mesmo dormindo) me alerta para as dificuldades e para a consciência de como funciona o mundo dos negócios, o mundo das pessoas crescidas (sinto-me uma criança que começou a caminhar) e a Arte é também ela um negócio comercial, pouco rentável mas um negócio. Lá tomei um café da manhã reforçado. Abri cadernos, a agenda da semana ... ligo ao meu pai ( não posso esquecer: hoje é dia do Pai). O guião está mesmo aqui do lado e cheio de marcações em cor fluorescente. A Brina (a partir do Rio de Janeiro) já está pronta para a nossa reunião em Skype, marcada na noite anterior. Tentámos juntas seguir cada página de texto para entender que músicas são necessárias ela compor (é que um dia decidimos ser ela a fazer toda a composição musical da peça, imaginem a responsabilidade.) E qual a única forma de contacto: Skype e Whatsaap (ela no Rio, eu em Lisboa). 
Ela pegou no Violão e cantou uns esboços. A sua voz é tão mágica que me embalou. Por momentos voltei a dançar em pensamento, tal como no sonho. Conseguimos uma reunião produtiva. Pedi-lhe apenas para termos coisas mais concretas para o dia da reunião de equipa. Sim, o Universo ofereceu-me simplesmente uma grande equipa artística e técnica, de que me orgulho muito e a qual agradeço todos os dias o crédito para com este projeto que só quer homenagear o AMOR, esse protagonista das mais bonitas histórias e de quem jamais me cansarei de falar. 
Whatsaap atualizado com novidades e referências artísticas . Agenda da semana em caos total , dividida entre as necessidades de sobrevivência financeira e as necessidades de criação artística. E qualquer artista saberá do que falo (bem, qualquer um não mas boa parte tenho a certeza que sim). Reservo todas as minhas horas de almoço para reuniões de parcerias. Os parceiros vão surgindo miraculosamente de todos os cantos. Desde a menina do café da frente que ao ouvir-me falar (ao telefone) das dificuldades de financiamento e que me oferece o Catering para os ensaios, ao pessoal do vídeo que se disponibilizaram para tudo o que seja audiovisual, a empresa de comunicação que  quer conhecer a fundo o projeto para saber como ajudar, aos amigos que simplesmente me oferecem trabalho e ideias para conseguir o mínimo de dinheiro para uma peça digna para já não falar da generosidade de toda uma equipa.
Continuo a refletir sobre a sensação que senti ao dançar, ao sentir o meu corpo em movimento, ao sorrir quando cada membro do meu corpo acordava. Senti-me viva! Senti uma força interior, que sei bem de onde vem. Está tudo certo. Estou viva estou aqui e a persistência realiza o impossível. 


 Marlene Barreto

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1 comentários

  1. Ótimo texto. E para quem assistiu a peça, meu caso, termina vendo a concretização das danças (metáfora do sonho), das música concretizadas, etc no palco.
    Bravo! Espero que realizes outros sonhos, que os transformes em peças!

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