AMOR, TEMPO, MORTE: treino básico para a vida... o resto é "peanuts"

terça-feira, janeiro 24, 2017

@photobyMarleneBarreto

Sou da opinião que o Ministério da Educação deveria inserir como obrigatória na escola, a disciplina : “Treino básico para a vida". E não, não estou a falar em esoterismo e ou espiritualidade … mas naquilo que o próprio nome da disciplina incita. Dar ao ser humano, um treino básico, as premissas mais importantes para Viver e não sobreviver. Sejamos sinceros, Viver tem tanto de mágico quanto de difícil, e eu sou pessoa otimista.

Na minha opinião focar-se-ia em determinados conceitos que tantas vezes subvalorizamos. E há muito que me apetece falar sobre a matéria que poderia ser lecionada nesta disciplina e talvez não o fizesse agora, se não se tivesse ligado o meu motor ao ver o filme “Beleza Colateral” com o Will Smith. O que me faz escrever este texto debruça-se sobre aquele que é o maior objetivo da arte: pôr-nos a refletir, mexer com o interior, bagunçar e chacoalhar as emoções. Este conceito de Beleza Colateral na Morte deixou-me a pensar, a pensar demais. E sim, acreditem que mexeu comigo acima da linha. Foi impossível assistir ao filme de ânimo leve e deitou abaixo toda a boa disposição que tinha angariado durante toda a semana. Nessa noite, a minha voz calou-se por completo e o meu cérebro começou a batalha pela dissecação dos conceitos: Amor, Tempo e Morte e inevitavelmente procurar a sua Beleza Colateral. Que beleza será esta?


Como atribuir valor a um conceito tão imensurável como é o teu, AMOR? 

Tantas vezes incompreendido, criticado e alvo dos maiores ataques terroristas e mesmo assim colocas-te ao dispor sem retorquir uma palavra. Admiro a tua coragem em tentares tanto, em resistires aos maiores resistentes, em promoveres tanto crescimento emocional e em troca levares com tantas negas. Como teimas tantas vezes promover a harmonia a troco de 0? Não te cansas de ser tão … ignorado? Confesso que no teu caso eu já teria feito as malas e partido para outra…
Quantas vezes já andaram às turras contigo por deferenderem que só TU tens deveres? Quantas vezes já foste tema de conversa entre amigos e ou casais? (Não te rias, foi só uma pergunta retórica). Lembraste da quantidade de vezes que foste a desculpa para fundamentalismos e tiranias? Quantas vezes escritores já te usaram procurando ser best sellers ou que já deste o nome a poemas sofridos do poeta que não consegue ser visível aos olhos da sua amada? 
Todos te usam e nem sequer direitos pedem. .
Ainda bem que a Perseverança é uma das tuas maiores características. Se te serve de consolo, eu não viveria sem ti. Deste-me as melhores sensações do mundo e se tivesse de morrer amanhã, morreria feliz. Até poderia tentar dizer que trazes contigo as emoções mais verdadeiras e reais que um ser humano pode sentir, dizer-te que perante a tua presença o meu coração passa a ter uma amplitude infinita e que só tu me fazes sentir Humana. Contigo trazes o cuidado imensurável, os afetos descarados e sem pudores, trazes o beijo verdadeiro, a necessidade de perdoar, a arte de OUTRAR.
Sou tão leiga para falar de ti que sinto que estou apenas em estágio . Já me fizeste sofrer, não vou negar mas acredito que todo esse sofrimento teve uma “Beleza Colateral”. Já fiquei “de mal” com alguém antes de ir dormir e é das piores sensações do mundo. Prometi a mesma não voltar a repetir porque o tempo passa e nós desconhecemos o conteúdo do contrato que assinámos no entre-vidas.

TEMPO, para que serves se não passas de uma concretização do homem para controlar a abstração de que és feito? 

“Tenho todo o tempo de mundo” canta Rui Veloso. Afinal o que és tu, se não uma tentativa humana de exercer poder sobre algo? Quem disse que o dia tem de ter 24 horas, ou que temos de viver entre as 12h e as 00h . Afinal de que és feito que não de uma matéria invisível que apenas se nota através das rugas que vão carregando a nossa pele? Gostava de te conhecer tanto quanto ao Amor, mas tu és mais esquivo, foges-me por entre os dedos e praticamente não conseguimos ter uma conversa de adultos, olhos nos olhos. Às vezes imagino-te como aquelas crianças traquinas que teimam em sair da vista dos adultos sem aviso prévio. Uma pessoa distrai-se e lá foste tu. Tal como o teu colega anterior, acho que são poucos ou nenhuns os que te compreendem. Talvez Einstein tivesse esboçado uma teoria um pouco mais ampla sobre ti, mas  a partir daí pouco mais se sabe. Fala-se que és uma espécie de quarta dimensão e os realistas defendem que és separado da mente humana. Depois há quem fale de ti usando os conceitos de passado, presente e futuro e existe ainda quem se dirija a ti como irreal ou seja que não existes e que o ser humano é que tem a ilusão do tempo. Fico confusa, não te entendo. Sinto-te no meu corpo, no meu rosto, na minha alma…mas nem sequer te posso acusar porque não sei se és real … Para os humanos traduzes-te em “Envelhecimento": desgaste natural das células ao longo do tempo. Mas se tu não existes como denomino eu a passagem que existe entre o meu nascimento e a minha morte? Uma espécie de vácuo? Sinceramente, gostava que jogasses um pouco mais limpo e te fizesses entender … mas o mais certo é que gostes de ser aquele personagem que só aparece no momento final do filme, mostrando que foi ele que proporcionou todo o enredo. Aceito mas não compreendo, mas talvez a humanidade não passe de um filme da quarta dimensão ….

E que Beleza Colateral existe em ti, minha Morte?

Dirijo-me a ti com algum carinho só para quebrar o gelo entre nós. Porque tu, sim és gélida, tão gélida quanto o mármore. Tens mais protestantes que admiradores e para saber disso não preciso de recorrer ao google. Tu e o tempo devem ser amigos, parece-me. Vejo-te assim como uma espécie de desfecho do mesmo e corrige-me se tiver errada. 
 A nossa conversa é de igual para igual e sem grande pompa e circunstância. Somos adultas e não me assustas, propriamente.  Aceito que existas, só me é difícil o teu jeito e ar calado…desculpa que te diga, mas não te sinto propriamente fiel a nada nem a ninguém, a não ser a ti própria. Sempre que me vens à mente, não sei o que pensar… serás tu um mal necessário, ou um bem inevitável? Pois depende da perspetiva, se formos apenas uma peça do jogo, então não vejo a Beleza Colateral em sermos derrubados sem dó nem piedade, muitas vezes numa só jogada. Vou dizer-te na cara e não é que não saibas, mas tu não tens amigos porque não és dócil, és fiteira, chantagista, irónica e em muitos casos fazes questão de ser impulsiva sem dar tempo para as despedidas. Se tenho de aceitar? Tenho, que remédio mas não sejas ruim, caramba. Ok, também concordo que a solução não seria ter uma morte com data marcada mas ainda assim acho que as regras deste jogo deveriam ser revistas.
E já agora que Beleza Colateral é esta que tens? O que pode ter de belo, assistir a um coração deixar de bater? Como pode ser belo o sofrimento?
Acho que por hoje não quero mais conversas contigo, fiquemos por aqui . Talvez num próximo dia consiga estar à altura de responder ao teu silêncio ensurdecedor.

Amor, Tempo e Morte … a trilogia base da disciplina “Treino básico para a vida”, o resto é “peanuts". 

Marlene Barreto

PS: Convido todos a ir ver o filme e não, não ganho nada em troca, apenas as vossas reflexões se as quiserem aqui partilhar.  





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